27 de abril de 2011

Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia



Eu ontem passei o dia
Ouvindo o que o mar dizia.
Choramos, rimos, cantamos.

Falou-me do seu destino,
Do seu fado...

Depois, para se alegrar,
Ergueu-se, e bailando, e rindo,
Poz-se a cantar
Um canto molhado e lindo.

O seu halito perfuma,
E o seu perfume faz mal!

Deserto de aguas sem fim.

Ó sepultura da minha raça
Quando me guardas a mim?...
Ele afastou-se calado;
Eu afastei-me mais triste,
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia
De rôxo as aguas tingia.

«Voz do mar, misteriosa;
Voz do amor e da verdade!
- Ó voz moribunda e doce
Da minha grande Saudade!
Voz amarga de quem fica,
Tremula voz de quem parte...»
. . . . . . . . . . . . . . . .
E os poetas a cantar
São ecos da voz do mar!

António Tomas Botto
1897-1959

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